A Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) está no centro de uma polêmica nacional após aprovar a implementação de cotas para pessoas trans, travestis e não-binárias. A decisão, que representa um avanço histórico para a inclusão da população LGBTQIA+ no ensino superior, gerou reações agressivas no campus, envolvendo desde interrupções de aulas até confrontos físicos entre estudantes e figuras ligadas à política conservadora.
No dia 7 de abril, o reitor Antonio José de Almeida Meirelles usou as redes sociais da universidade para expressar repúdio aos ataques que ocorreram no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH), em março. Meirelles denunciou que foram gravados vídeos não autorizados, imagens e mensagens distorcidas foram divulgadas, e aulas chegaram a ser interrompidas. Segundo o reitor, essas ações configuram uma tentativa de desestabilizar o ambiente universitário.
Entre os episódios mais tensos, destaca-se a presença do vereador Vinicius de Oliveira (Cidadania), que publicou em suas redes sociais, no dia 23 de março, um vídeo em que visita o campus da Unicamp. No registro, o político arranca cartazes das paredes, questiona a existência de banheiros neutros e critica manifestações políticas no espaço universitário.
Embora o reitor não tenha citado nomes diretamente, ele anunciou que pretende formalizar uma denúncia contra o responsável pelos atos. A universidade também se comprometeu a desenvolver um protocolo pacífico de defesa institucional, além de registrar boletim de ocorrência pelos episódios de invasão e intimidação.
Os atos não pararam nas redes sociais. Em um dos incidentes mais graves, houve confronto direto entre estudantes e integrantes de movimentos políticos conservadores. A tensão aumentou a ponto de a Polícia Militar ser chamada para conter um tumulto iniciado durante as filmagens de um grupo político no campus.
Segundo a Secretaria da Segurança Pública (SSP) de São Paulo, um professor de 42 anos relatou ter sido agredido, enquanto um homem de 26 anos afirmou ter sido alvo de xingamentos e violência física. O caso foi registrado na delegacia como vias de fato, lesão corporal e injúria.
Do outro lado, o vereador também alegou ter sido vítima de agressão por parte de estudantes, fato registrado no 7º Departamento de Polícia de Campinas. A tensão no campus escancarou os riscos enfrentados por instituições que buscam promover políticas de inclusão em um país ainda marcado por intolerância e polarização.
Mesmo diante das adversidades, a Unicamp mantém sua postura firme em defesa da diversidade. A aprovação das cotas voltadas para pessoas trans, travestis e não-binárias é uma das medidas mais progressistas no ensino superior brasileiro recente, refletindo um esforço legítimo para corrigir desigualdades históricas enfrentadas pela população LGBTQIA+.
A universidade reitera que continuará trabalhando para garantir um ambiente seguro, plural e democrático para todos os seus alunos, professores e funcionários.