Presidente da Texas A&M veta curso LGBTQIA+ no currículo básico

Presidente da Texas A&M veta curso LGBTQIA+ no currículo básico

O presidente da Texas A&M University, Mark Welsh, vetou oficialmente a inclusão de um curso introdutório sobre estudos LGBTQIA+ no currículo básico da instituição, mesmo após aprovação do senado do corpo docente. A decisão, assinada no dia 11 de fevereiro de 2025, levanta debates sobre liberdade acadêmica, interferência política e a contínua repressão à visibilidade queer em instituições públicas no Texas.

Uma tentativa de avanço barrada no topo

O curso, intitulado “Introdução aos Estudos de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgêneros e Queer”, havia sido proposto pelo senado do corpo docente da universidade para integrar a área de Ciências Sociais e Comportamentais. A proposta visava ampliar o debate acadêmico sobre sexualidade, identidade de gênero e estruturas sociais que moldam a experiência LGBTQIA+.

Segundo o conteúdo da ementa do curso, os objetivos incluíam:

  • Discutir teorias construcionistas e essencialistas sobre sexualidade e gênero;

  • Analisar a interseccionalidade com raça, classe, nacionalidade e (in)capacidade;

  • Ensinar terminologia chave para promover inclusão e consciência;

  • Refletir sobre como instituições sociais, legais e políticas perpetuam a cisheteronormatividade, bem como a homo, bi e transfobia.

Contexto político e ideológico por trás da decisão

O veto de Welsh surgiu após um memorando enviado em dezembro de 2024 pelo reitor Alan Sams, que endossava a proposta do senado do corpo docente. A sugestão constava na página 12 de um relatório de 13 páginas, no qual Sams apoiava formalmente a inclusão do curso como parte do currículo obrigatório.

Vale destacar que, em janeiro de 2025, um mês antes do veto, o Conselho de Regentes da universidade — órgão nomeado por representantes políticos do estado — já havia extinguido o curso de menor em LGBTQIA+, um programa acadêmico complementar voltado a estudos queer. A nova disciplina vetada faria parte dessa mesma trilha formativa.

O embate revela uma disputa clássica entre o senado do corpo docente — que representa os interesses pedagógicos da comunidade acadêmica — e o Conselho de Regentes, vinculado diretamente a políticas de governo e à pressão de grupos conservadores. Enquanto o primeiro tenta inovar o currículo e incluir vozes diversas, o segundo impõe barreiras com base em discursos de neutralidade ideológica.

A polêmica em torno do material didático

Outro ponto controverso gira em torno do livro adotado pelo curso, a 4ª edição da obra “Discovering: An Introduction to LGBTQ Studies”. O conteúdo das páginas cinco e seis do material provocou forte reação entre críticos: os autores apresentam descrições sobre relacionamentos pederásticos na Grécia Antiga — entre homens adultos e meninos de 12 a 18 anos — sem condenação explícita, tratando o tema sob uma ótica histórica e filosófica.

A passagem afirma que tais relações tinham como objetivo proporcionar “prazer e amizade” ao homem mais velho e, em troca, oferecer ao mais jovem “proteção, treinamento e vantagem social”. Os autores ainda descrevem a ligação como um tipo elevado de amor, alinhado às funções civis da época. Esse trecho foi usado por opositores para criticar o curso como ideologicamente enviesado e inapropriado para o ensino obrigatório.

O curso continua, mas fora do núcleo básico

Apesar do veto, o curso não foi cancelado da grade curricular. Ele continua sendo oferecido na universidade, mas apenas como disciplina optativa. Essa decisão mantém a possibilidade de discussão sobre identidade de gênero e sexualidade no ambiente universitário, porém sem o peso e a obrigatoriedade que o currículo básico representa.

Até o momento, nem a Texas A&M University nem o Texas A&M University System se manifestaram publicamente sobre a decisão.

O que está em jogo?

A exclusão do curso do currículo obrigatório representa mais do que uma simples escolha pedagógica: ela simboliza o cerceamento de debates essenciais sobre diversidade, inclusão e justiça social nas universidades públicas. Em um estado onde políticas anti-LGBTQIA+ se intensificam, o gesto do presidente da universidade ecoa como parte de um movimento maior de silenciamento e apagamento institucional da comunidade queer.

A tentativa de barrar o curso evidencia o conflito constante entre tradição e progresso, ideologia e ciência, autoridade e liberdade. E nesse tabuleiro, quem perde são os estudantes que buscam uma formação mais plural, crítica e humana.

Deixe um comentário

Carregando o próximo artigo...
Search
Loading

Signing-in 3 seconds...

Signing-up 3 seconds...