Violência contra pessoas LGBTQIA+ explode no Brasil na última década

Violência contra pessoas LGBTQIA+ explode no Brasil na última década

A escalada da violência contra pessoas LGBTQIA+ no Brasil atingiu patamares alarmantes. Segundo dados do Atlas da Violência 2024, divulgados em 12 de maio, os registros hospitalares de agressões contra essa população cresceram de forma avassaladora entre 2014 e 2023 — ultrapassando 1.000% em todas as categorias analisadas.

O crescimento mais expressivo foi observado entre travestis, com um salto de 2.340% nos registros. Em seguida, vêm os homens transsexuais, com aumento de 1.607%; mulheres transsexuais, com 1.111%; e homossexuais e bissexuais, com alta de 1.193%.

Esses números fazem soar o alarme de uma realidade brutal, ainda que os especialistas alertem para fatores como a subnotificação histórica e a ampliação do acesso ao sistema de saúde, que podem ter contribuído parcialmente para esse aumento nos registros.

Um problema estrutural e invisibilizado

Apesar de os dados não permitirem afirmar com precisão que todos os casos registrados são motivados por LGBTfobia, o Atlas aponta para um cenário de violência sistêmica contra a população LGBTQIA+ no país.

Entre 2022 e 2023, por exemplo, os registros de violência contra homossexuais e bissexuais cresceram 35%, enquanto os de pessoas transsexuais e travestis aumentaram 43%. O grupo mais atingido proporcionalmente continua sendo o de homens trans, embora o volume de registros de mulheres transsexuais ainda seja mais alto.

A pesquisa reforça que a coleta de dados no Brasil ainda é limitada — o país não possui um censo específico sobre a população LGBTQIA+, e os sistemas oficiais de registro não identificam a motivação dos crimes. Ainda assim, o estudo destaca que, mesmo com essas limitações, o aumento expressivo dos casos sinaliza um agravamento real da situação.

“O aumento substancial de casos de violência parece indicar, efetivamente, aumento na prevalência de violências sofridas pelo grupo social em questão”, diz o relatório.

Efeitos da pandemia e do extremismo político

O período de crescimento nos casos de violência coincide com momentos críticos da política nacional, como a pandemia da Covid-19 e a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro.

O estudo destaca ainda o avanço de discursos e projetos anti-LGBTQIA+ no cenário político brasileiro, especialmente a partir de 2019. Esse movimento se organizou em torno da chamada “agenda anti-ideologia de gênero”, que ganhou força no Congresso Nacional.

De acordo com levantamento da FGV Direito Rio citado no relatório, foram apresentados mais de 60 projetos de lei com teor antitrans entre 2019 e 2023. Entre eles:

  • 26 projetos contra o uso de linguagem não-binária

  • 11 sobre a exclusão de mulheres trans em esportes femininos

  • 10 tentando restringir cirurgias de transgenitalização e terapias hormonais

  • 7 contra o que chamam de “ideologia de gênero”

  • 3 que tentam proibir banheiros de gênero neutro

  • 4 focados em impor o sexo biológico em documentos oficiais

Essa ofensiva legislativa, somada ao fortalecimento do conservadorismo, impacta diretamente o cotidiano e a segurança das pessoas LGBTQIA+ no Brasil, que continuam lutando por visibilidade, dignidade e sobrevivência.

Avanços tímidos frente a uma realidade brutal

O crescimento das notificações pode, em parte, ser atribuído a uma melhora na visibilidade da população LGBTQIA+ e à expansão da rede de atendimento em saúde, que ampliou a base de dados disponível. Mas isso não diminui o peso da violência sistemática evidenciada pelos números.

Mesmo em um cenário onde a subnotificação ainda é uma realidade, os dados apontam que a violência contra pessoas LGBTQIA+ não é exceção — é uma constante que se agrava.

O Brasil continua sendo um dos países mais perigosos do mundo para pessoas LGBTQIA+. E essa constatação exige ação imediata, políticas públicas robustas e uma virada de mentalidade social e institucional.

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