Desde que Donald Trump reassumiu a presidência, a comunidade trans nos Estados Unidos tem sentido na pele um clima de hostilidade crescente. Não se trata apenas de mudanças políticas—é um ataque direto à existência dessas pessoas. O medo deixou de ser apenas um receio abstrato e passou a fazer parte do dia a dia.
Já nas primeiras horas de governo, Trump adotou medidas drásticas contra os direitos da população trans. Ele eliminou o termo “transgênero” de documentos oficiais, assinou um decreto reconhecendo apenas dois gêneros e restabeleceu a proibição da presença de pessoas trans nas Forças Armadas—decisão que a Justiça suspendeu em março, mas cujo impacto já havia sido sentido. Essas políticas não são apenas burocráticas; são declarações de guerra contra uma comunidade já vulnerável.
A brasileira Pauleteh Araújo, de 29 anos, que mora em Nova York há dez meses, viu sua realidade mudar do dia para a noite. No segundo dia do novo governo, recebeu uma mensagem transfóbica brutal em um aplicativo de relacionamentos. O agressor escreveu que Trump havia decretado a existência de apenas dois gêneros e que ela deveria se jogar da janela. O choque virou um alerta: a transfobia ganhou respaldo oficial e agora vem sem máscaras.
“Se antes eu já sentia medo, agora a sensação é que qualquer um pode me atacar na rua sem consequências”, diz Pauleteh, que agora pensa em comprar uma arma de choque para se proteger. “As pessoas estão se sentindo encorajadas a nos agredir abertamente. A diferença é que agora o ódio vem com aval do governo.”
Sua trajetória de autodescoberta começou muito antes de sua mudança para os EUA. Filha de pais evangélicos, demorou a aceitar sua identidade. Mas agora, enfrentando um ambiente ainda mais hostil, precisa decidir até que ponto sua segurança pode ser comprometida antes de cogitar sair do país.
O aumento da hostilidade não afeta apenas quem já vivia nos Estados Unidos, mas também quem decidiu iniciar sua transição recentemente. Jess Elwood, uma empreendedora de 48 anos de Chicago, se assumiu trans em junho de 2024 e começou a terapia hormonal em setembro. Foi um processo libertador, mas agora esse sentimento de liberdade está ameaçado.
“Sempre achei que os Estados Unidos fossem um país onde eu poderia ser quem sou. Mas agora, pela primeira vez, estou reconsiderando minha permanência”, confessa Jess. O medo crescente, a violência e a sensação de que os direitos podem ser arrancados a qualquer momento fazem com que sair do país pareça uma opção real.
A volta de Trump ao poder não trouxe apenas políticas transfóbicas—ela legitimou o ódio e encorajou ataques contra pessoas trans. O impacto não se resume a leis e decretos, mas a uma cultura de medo que afeta cada passo dessas pessoas no dia a dia.
No entanto, a comunidade trans não está disposta a se calar. Movimentos de resistência, redes de apoio e organizações LGBTQIA+ seguem firmes, buscando garantir espaços seguros e lutando por um futuro onde ser trans não seja um risco de vida. Se há algo que a história prova, é que mesmo diante dos piores cenários, a resistência nunca morre.