Girls Love (GL) é um gênero de ficção que apresenta histórias centradas em relacionamentos românticos e/ou sexuais entre mulheres. Originado no Japão, o termo é a contraparte do Boys Love e se expande por mangás, animes, doramas e outras formas de mídia. Assim como o BL, o GL tem raízes no shōjo, mas cresce com uma identidade própria, explorando a diversidade afetiva e emocional entre personagens femininas.
Apesar de muitas obras ainda serem produzidas para um público masculino, o cenário está mudando. Cada vez mais autoras e criadoras LGBTQIA+ vêm assumindo esse espaço e dando protagonismo real às vivências lésbicas e sáficas, ressignificando o gênero para além do fetichismo.
O GL nasce como uma evolução do gênero yuri, um termo que começou a circular nos anos 1970, mas que, diferente do BL, levou mais tempo para se consolidar comercialmente. Originalmente usado de forma quase pejorativa para indicar relações entre garotas em obras de mangá, o yuri foi ganhando um novo significado à medida que as narrativas se tornaram mais ricas e respeitosas.
Com o tempo, o termo Girls Love passou a ser adotado por parte da indústria e da comunidade como um nome mais acessível, especialmente no Ocidente. Hoje, os dois termos (yuri e GL) coexistem, com GL geralmente se referindo a histórias mais amplas e comerciais, enquanto o yuri pode manter um tom mais cult ou específico.
O GL pode ser doce e delicado, com olhares, silêncios e sentimentos não verbalizados — ou visceral e direto, com casais intensos e apaixonados que enfrentam barreiras sociais, familiares ou internas. A variedade de estilos dentro do gênero permite que o público encontre desde obras leves e cotidianas até tramas densas, cheias de dor e superação.
Durante muito tempo, o GL foi marcado por dois estigmas: ou era hipersexualizado para agradar homens heterossexuais, ou apresentava finais tristes em que o casal se separava, voltando à “heteronormatividade”. Hoje, isso tem mudado: narrativas mais sensíveis e comprometidas com a representatividade estão emergindo, mostrando relações felizes, diversas e reais entre mulheres.
Alguns fãs ainda utilizam o termo shoujo-ai (amor entre garotas) para indicar histórias com foco no romance sem conteúdo sexual, enquanto “yuri” ou “GL” seria usado para obras com cenas mais explícitas. Mas essa distinção é pouco usada no Japão e mais comum entre fãs ocidentais. De qualquer forma, o mais importante é o respeito ao conteúdo e à mensagem da obra.
O GL vem se tornando uma poderosa ferramenta de representação sáfica na cultura pop, embora ainda enfrente o desafio da fetichização. Quando escrito por pessoas da própria comunidade, o gênero floresce com autenticidade, oferecendo histórias onde mulheres lésbicas e bissexuais se veem como protagonistas do próprio desejo, da própria ternura e das próprias decisões.
Séries como “Citrus”, “Bloom Into You” e “Adachi to Shimamura” ajudaram a popularizar o GL internacionalmente, enquanto títulos independentes e autorais vêm ganhando força nas redes sociais e plataformas digitais.
Assim como o Boys Love, o GL se expandiu para além das fronteiras japonesas. Na China, Coreia do Sul e Sudeste Asiático, surgem cada vez mais webtoons, doramas e novelas gráficas com casais sáficos como protagonistas. No Ocidente, autoras LGBTQIA+ estão ocupando espaços com HQs e livros que trazem romances entre mulheres com honestidade e beleza, como em “Laura Dean Keeps Breaking Up with Me” ou “The One You Feed”.
O Girls Love é um espelho do desejo e do afeto entre mulheres — um espaço de sonho, dor, alegria e luta. Quando tratado com respeito, o gênero se torna um canal de empoderamento e visibilidade para mulheres LGBTQIA+, oferecendo histórias onde elas se veem amadas, complexas e plenas. Em um mundo ainda cheio de invisibilizações, o GL é uma forma de resistência poética — e absolutamente necessária.