Desde sua chegada ao papado em 2013, o Papa Francisco surpreendeu o mundo ao adotar uma postura inédita em relação às pessoas LGBTQIA+.
“Se uma pessoa é gay, busca Deus e tem boa vontade, quem sou eu para julgá-la?” — Papa Francisco.
Essa célebre frase foi um divisor de águas. Pela primeira vez, um líder da Igreja Católica falava publicamente sobre homossexualidade com empatia — e sem condenação.
Durante seus 12 anos como Papa, Francisco:
Recebeu pessoas trans no Vaticano
Reconheceu a importância das uniões civis entre casais homoafetivos
Abençoou casais LGBTQIA+ em audiências privadas
Incentivou bispos a acolherem a diversidade com sensibilidade pastoral
No entanto, não promoveu mudanças doutrinárias oficiais no Catecismo. Seu legado se constrói mais por gestos, discursos e aberturas de diálogo do que por reformas formais. Ainda assim, esses gestos abriram margens para o impensável: uma escuta real dentro das paredes do Vaticano.
Enquanto Francisco sinalizava acolhimento simbólico, milhares de pessoas LGBTQIA+ ao redor do mundo buscavam — e encontravam — novas formas de viver a fé.
No Brasil, onde o fundamentalismo ainda silencia muitas vozes, lideranças religiosas inclusivas têm oferecido alternativas reais de acolhimento, espiritualidade e comunidade.
Pastor Marcos Gladstone, fundador da Igreja Contemporânea. (Foto: Acervo pessoal)
Fundador da Igreja Contemporânea — um dos maiores ministérios cristãos inclusivos da América Latina — o Pastor Marcos Gladstone é referência nacional na construção de uma teologia voltada à dignidade, à diversidade e ao amor.
Em entrevista exclusiva ao Cultura Queer, ele refletiu sobre o significado espiritual do legado deixado por Francisco:
“O Papa Francisco apresentou uma abordagem mais acolhedora e pastoral em relação às pessoas LGBTQIA+, marcando uma mudança de tom importante dentro da Igreja Católica. Embora a doutrina oficial da Igreja não tenha mudado, ele promoveu uma postura de maior respeito, inclusão e escuta.”
A abertura de Francisco não passa despercebida no cenário religioso brasileiro. Suas palavras foram um alento para fiéis LGBTQIA+, mas também um desafio para igrejas que ainda sustentam discursos de condenação e exclusão.
Ao ser questionado se essa postura pode inspirar mudanças no contexto brasileiro, o Pastor Marcos respondeu:
“A postura de Francisco abrirá margem para discussões teológicas e pastorais mais abertas aos LGBTQIA+ que podem evoluir a visão da Igreja sobre gênero e sexualidade de maneira mais respeitosa e menos condenatória. Isso, não significa a meu ver uma mudança imediata doutrinária, mas uma porta aberta para repensá-la no futuro.”
O Papa Francisco faleceu em abril de 2025 deixando a Igreja em uma encruzilhada: entre o medo do retrocesso e a esperança de continuidade. Mas seu maior legado talvez esteja na semente da escuta — um gesto simples, mas revolucionário, dentro de uma instituição que por tanto tempo escolheu o silêncio e o julgamento.
Hoje, líderes como o Pastor Marcos seguem firmes construindo um cristianismo possível para todas as pessoas. E isso também é herança do que o Papa ousou plantar.