Em julho de 2021, Samuel Luiz, um jovem espanhol de 24 anos, foi brutalmente agredido por um grupo de homens nas ruas de Coruña. Durante o ataque, enquanto vários transeuntes observavam ou registravam a cena com seus celulares, apenas dois indivíduos intervieram: os imigrantes senegaleses Ibrahima Diack e Magatte N’Diaye. Apesar de estarem em situação migratória irregular, o que os colocava em risco de deportação, ambos não hesitaram em tentar salvar Luiz da agressão motivada por homofobia. Infelizmente, Samuel Luiz não resistiu aos ferimentos e faleceu no hospital, gerando uma onda de indignação e protestos em todo o país.
Em 26 de fevereiro de 2025, quase quatro anos após o trágico incidente, a prefeitura de Coruña concedeu a Diack e N’Diaye o título de “filhos adotivos da cidade” em uma cerimônia solene. A prefeita Inés Rey destacou o “puro altruísmo” demonstrado pelos dois durante o ataque. Ela enfatizou que, embora houvesse outras pessoas presentes no local, apenas os dois migrantes, mesmo sem documentação legal, arriscaram-se fisicamente para ajudar a vítima. A vereadora Rosalía López também expressou gratidão, afirmando: “Obrigada pelo seu exemplo em arriscar tudo, apesar de terem muito a perder.”
Durante a cerimônia, tanto Diack quanto N’Diaye minimizaram o rótulo de heróis, afirmando que apenas fizeram o que consideravam correto. N’Diaye declarou: “Não somos heróis, fizemos o que tínhamos que fazer.” Diack acrescentou: “Eu nasci em uma família que não tem muito. Mas eles me deram muitas coisas mais valiosas do que dinheiro. Eles me deram respeito, educação e, acima de tudo, valores.”
Além de seu ato de coragem, Diack e N’Diaye desempenharam um papel crucial no julgamento dos agressores de Samuel Luiz. Em novembro de 2024, graças aos seus testemunhos, quatro homens foram condenados pelo assassinato, recebendo penas que variam entre 10 e 24 anos de prisão. O tribunal concluiu que o principal acusado proferiu insultos homofóbicos durante o ataque, caracterizando-o como um crime de ódio.
A coragem demonstrada por Diack e N’Diaye lança luz sobre a situação dos migrantes na Espanha. Ambos residiam e trabalhavam em Coruña sem a devida documentação, enfrentando desafios e riscos constantes. O fato de terem sido os únicos a intervir em defesa de Samuel Luiz, mesmo sob ameaça de deportação, suscitou debates sobre solidariedade, integração e os preconceitos enfrentados por comunidades migrantes. A homenagem prestada pela cidade de Coruña não apenas reconhece o ato heroico desses homens, mas também destaca a importância de valores como empatia e coragem civil em uma sociedade diversa.