Emerson Ferretti quebra barreiras no futebol e se firma como símbolo de representatividade LGBTQIA+

Em um cenário historicamente marcado pelo machismo e preconceito, Emerson Ferretti decidiu virar o jogo. Ex-goleiro do Flamengo e atual presidente do Esporte Clube Bahia, Ferretti, hoje com 53 anos, deu um passo que ainda é raro no futebol profissional: assumiu publicamente sua orientação sexual como homem gay.

Apesar de o anúncio ter ocorrido há mais de dois anos, o impacto segue reverberando — e com força. Em uma fala recente, Ferretti explicou por que essa exposição continua sendo importante:

“Bom, eu entendo que isso é um marco no futebol brasileiro, né? Eu fui o primeiro atleta de alto rendimento a falar abertamente sobre a sexualidade. Isso já foi um marco há pouco mais de dois anos atrás, né? E eu acho que era necessário alguém ter a coragem para falar.”

Coragem. Palavra pequena, impacto gigante. Ele explicou que, por muito tempo, como tantos outros atletas, precisou esconder quem era para sobreviver no meio futebolístico.

“Todas as pessoas LGBTs dentro do futebol precisavam, ao longo dos anos da história, se esconder para poder sobreviver. Eu fui um deles. Eu precisei esconder essa condição a vida toda. E a partir do momento que alguém tem a coragem e fala, você lança luz sobre o assunto, você encoraja outras pessoas.”

Um presidente que representa

A eleição de Emerson Ferretti como presidente do Bahia, em 2024, foi mais do que uma vitória administrativa — foi um ato simbólico e transformador. O clube, conhecido por sua torcida diversa e apaixonada, deu mais um passo em direção à inclusão real.

“Eu cheguei à presidência de um clube como o Bahia também é um marco, também é o primeiro, também estou sendo pioneiro.”

E ele não para por aí. Ferretti entende que sua visibilidade como um homem gay em um cargo de liderança esportiva tem um peso social. Ele se vê como um catalisador de mudança em um espaço ainda marcado por exclusões.

“Eu acho que precisamos ter referências e o Bahia é um clube popular. E a torcida do Bahia existe em pessoas de tudo quanto é tipo. De todas as crenças religiosas, de todas as classes sociais, de todas as cores de pele e de todas as opções sexuais.”

Amor fora dos campos

Em fevereiro de 2025, a vida pessoal de Ferretti ganhou os holofotes com a revelação de seu relacionamento com Jordan Dafner. Sem alardes nem declarações grandiosas, os dois foram vistos juntos em momentos de afeto e parceria, como na Barra da Siribinha, no município baiano de Conde, e em um encontro íntimo na casa de Caetano Veloso.

Jordan é uma figura multifacetada: bailarino com atuações em musicais renomados como Matilda, jornalista, social media e assessor de imprensa. Sua atuação no cenário cultural baiano é tão forte quanto seu apoio ao Bahia e ao companheiro Emerson. A conexão entre os dois vai além do afeto — é também política, arte, resistência e presença.

Legado e futuro

Mesmo com os desafios, Ferretti não se cala. Ele compreende que, ao se posicionar, também se expõe, mas acredita que esse é o preço para abrir caminhos para quem vem depois.

“A partir do momento que eu abri a boca e falei, eu carrego isso comigo. Não me importo, tanto é que eu estou sempre disponível para falar sobre isso porque eu acho importante para a sociedade e para o futebol. Eu acho que é um legado que eu posso deixar fora de campo.”

E que legado! O futebol, como reflexo da sociedade, precisa urgentemente de mudanças profundas. Ferretti sabe disso e segue sendo farol nesse processo.

“Tomara que o futebol entenda e evolua nesses conceitos sobre tudo isso. Eu acho que a minha eleição é mais um passo e o Bahia está de parabéns por isso. A torcida do Bahia está de parabéns por isso e deve se orgulhar desses posicionamentos do clube.”

Um marco que inspira

Emerson Ferretti prova que é possível vencer dentro e fora de campo — com honestidade, coragem e orgulho de ser quem se é. Seu protagonismo inspira, emociona e, mais do que tudo, constrói um futuro onde jogadores não precisem mais esconder sua verdade. Onde o amor e a autenticidade possam correr livres pelos gramados.