Ação no STF contesta proibição de bloqueio hormonal em menores trans

Ação no STF contesta proibição de bloqueio hormonal em menores trans

Em 17 de abril de 2025, duas das mais respeitadas entidades de defesa dos direitos LGBTQIA+, a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) e o Instituto Brasileiro de Transmasculinidades (Ibrat), apresentaram uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) ao Supremo Tribunal Federal (STF). O alvo é a Resolução nº 2.427/2025, publicada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), que impõe severas restrições ao cuidado médico de pessoas trans em idade inferior a 21 anos.

A norma proibiu a prescrição de bloqueadores hormonais da puberdade para crianças e adolescentes trans, além de restringir o início da hormonização a partir dos 18 anos e cirurgias de afirmação de gênero apenas após os 21 anos, nos casos que envolvam possível esterilização.

Violação de direitos e apagamento identitário

Segundo a ADI, a resolução do CFM fere diretamente princípios constitucionais como a dignidade da pessoa humana, o direito ao livre desenvolvimento da personalidade, a proteção da saúde e a proibição de retrocessos em direitos fundamentais. Para Antra e Ibrat, o texto normativo ignora décadas de pesquisas médicas e o consenso científico internacional que respalda o uso de bloqueadores hormonais como uma ferramenta segura e eficaz no cuidado com a saúde de jovens trans.

Mais do que uma limitação técnica, as entidades acusam o CFM de institucionalizar a transfobia ao adotar uma diretriz baseada em vieses políticos, alinhados a setores ultraconservadores da sociedade. A proibição, segundo elas, contribui para o sofrimento psíquico e social de crianças e adolescentes trans, que já enfrentam taxas elevadas de depressão, ansiedade e ideação suicida.

Ministério Público também contesta

O Ministério Público Federal (MPF) também iniciou procedimento para investigar os fundamentos da resolução. A apuração visa entender se o CFM baseou sua decisão em dados científicos ou se houve motivação política que comprometeu a autonomia médica e os direitos das pessoas trans.

Enquanto isso, profissionais da saúde, juristas e ativistas alertam que a medida pode desencadear uma onda de desassistência e abandono do cuidado médico qualificado para jovens trans, empurrando famílias e indivíduos para soluções não regulamentadas e inseguras.

O que pedem Antra e Ibrat

Na petição enviada ao STF, as entidades solicitam a suspensão imediata da Resolução nº 2.427/2025, com o objetivo de restaurar as orientações anteriores — que já permitiam o uso de bloqueadores e hormônios sob rigorosos critérios técnicos e com acompanhamento multiprofissional. Também pedem a declaração de inconstitucionalidade integral da nova regra ou, ao menos, dos trechos que limitam direitos de forma desproporcional e discriminatória.

O debate agora está nas mãos da mais alta Corte do país, que terá o desafio de decidir entre manter uma política que desconsidera a existência de jovens trans ou garantir que a medicina continue sendo praticada com base na ciência, no respeito à diversidade e na proteção integral de crianças e adolescentes.

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