Na tradição da Páscoa, celebramos o renascimento. Mas para a comunidade LGBTQIA+, renascer vai além de um simbolismo religioso ou sazonal. É sobre reconstruir-se após o silenciamento, reaprender a amar quem se é, encontrar fôlego para continuar e, muitas vezes, inventar novos começos a partir do que restou.
Neste especial, o Cultura Queer convida você a refletir sobre o que significa renascer sendo LGBTQIA+ em um mundo que nem sempre acolhe, mas onde resistir é também um gesto de existência.
Renascer é, para muitas pessoas LGBTQIA+, um processo constante. Desde a primeira vez em que se ouve que “isso não é normal”, passando pela descoberta da identidade, pela saída do armário, pela rejeição ou aceitação da família, até o momento em que se encontra uma rede de apoio, um lugar de segurança ou simplesmente o espelho com mais leveza.
Cada etapa é um renascimento:
Não se trata de um recomeço linear, mas de ciclos em que a identidade vai ganhando contorno, força e voz.
Renascer também é sobre se permitir viver com inteireza, sem fragmentar-se para agradar ou sobreviver. Em uma sociedade que ainda marginaliza corpos dissidentes, recomeçar pode ser um ato radical.
Em datas como a Páscoa, as reuniões familiares podem ser momentos de estranhamento ou exclusão para quem não se sente aceito em sua família biológica. Por isso, é comum que muitas pessoas LGBTQIA+ criem suas próprias tradições:
Esses espaços, que nascem do afeto e da escolha, também são formas de renascimento.
Criar novas formas de pertencimento, fora dos padrões impostos, é afirmar que amor e acolhimento também podem florescer onde antes havia dor.
A experiência queer desafia ideias fixas de corpo, gênero e papel social. Para muitas pessoas trans, travestis, não bináries ou em processos de transição, o renascimento é literal: é o início de uma vida onde se vive com autenticidade.
Renascer, nesse contexto, pode ser doloroso. Mas também pode ser incrivelmente libertador. Reivindicar o direito de existir, de nomear-se, de vestir-se, amar e ser visto como se é, é um ato profundo de coragem.
Em tempos de intolerância e retrocessos, celebrar a Páscoa em uma perspectiva queer é reafirmar que também merecemos:
Nossas histórias não são marginais. Elas são centrais para a construção de um mundo mais justo.
O amor que cultivamos, em todas as suas formas, também é um renascimento. Renascer é um ato de existir. E existir, para a comunidade LGBTQIA+, é também transformar.
Que esta Páscoa nos lembre de tudo que já superamos, de tudo que somos e de tudo que ainda podemos florescer. No fim das contas, renascer nunca é apenas recomeçar. É sobre continuar existindo, mesmo quando o mundo tenta apagar nossas cores.
Porque existimos. E seguimos.