Edital da eleição do Conselho Estadual LGBTQIA+ previa a posse dos conselheiros eleitos em 8 de abril, o que ainda não ocorreu. Conselheiros criticam a demora e falam em um “projeto maior de desmobilização”.
O estado de São Paulo ainda não oficializou a posse dos 22 conselheiros eleitos para o Conselho Estadual de Políticas Públicas LGBTQIA+, prevista para 8 de abril de 2025. Embora o processo tenha seguido todos os trâmites legais — com edital publicado em 29 de novembro de 2024, inscrições entre 10 de dezembro e 31 de janeiro, e eleição realizada em 12 de março — os representantes seguem sem resposta do governo sobre o início das atividades.
A lista final dos 11 titulares e 11 suplentes foi divulgada em 18 de março. Desde então, o silêncio do governo paulista, liderado por Tarcísio de Freitas (Republicanos), tem gerado forte indignação. Nenhum dos eleitos recebeu comunicação sobre a posse, datas de reunião ou diretrizes de funcionamento do colegiado. O que deveria ser um marco de participação social virou motivo de frustração.
Para Lilian Santos de Carvalho, educadora e organizadora da Parada LGBTQIA+ de Suzano, o atraso revela mais que desorganização: é um gesto político. “Atrasar a posse de um conselho soa como descaso. Considerando que é uma pauta que, nessa gestão Tarcísio, é atacada a todo momento, faz parecer que não há interesse em constituir esse conselho”, afirmou. A ausência de retorno também é criticada. “Não recebemos nenhum e-mail, nenhuma justificativa. Isso só reforça o sentimento de que há, no mínimo, um descaso com o conselho e com toda a comunidade que participou da eleição.”
Ravi Spreizner, homem trans e vice-coordenador do Instituto Brasileiro de Transmasculinidade em São Paulo, também eleito para o Conselho, classifica o processo como “burocrático e transfóbico”. “Parece um processo mascarado, uma tentativa de nos dar uma falsa sensação de participação. Mas não podemos nos calar. Precisamos tomar posse urgentemente.”
Segundo Ravi, a ausência de informações não é um detalhe administrativo, mas um sintoma de algo mais profundo: um projeto de esvaziamento da participação civil nas políticas públicas LGBTQIA+. “Isso é um grande descaso com pessoas que tiveram que correr atrás para garantir as inscrições e com quem lutou para garantir essa eleição”, reforça.
Adilson Souza Santiago, presidente do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (Condepe), explicou que o impasse ocorre porque algumas secretarias estaduais ainda não indicaram seus representantes. Um exemplo citado foi a Secretaria da Educação (Seduca), que não nomeou os dois nomes necessários.
A expectativa, segundo Adilson, é que um ofício enviado às secretarias da Justiça e da Casa Civil agilize as nomeações pendentes. “Feito isso, poderemos prosseguir com a publicação e nomeação do Conselho. Não vejo muitas dificuldades, mas infelizmente travou por essas questões.”
Para Marcelo Morais, ativista LGBTQIA+ que acompanhou todo o processo, os problemas começaram antes mesmo da eleição. Candidaturas foram eliminadas por detalhes burocráticos, como o compartilhamento de endereço — algo frequente em ocupações e moradias informais. “Houve um rigor que prejudicou a participação de muitas pessoas da periferia”, aponta.
Marcelo também afirma que existem articulações políticas em curso com parlamentares e reuniões com o Condepe para resolver o impasse. “Estamos pressionando o governo por meio de tratativas internas e buscamos uma solução conjunta.”
O Conselho Estadual LGBTQIA+ tem papel fundamental na construção, fiscalização e proposição de políticas voltadas à comunidade. Previsto como um espaço de controle social, representa segmentos diversos: lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais. Sem sua posse oficializada, o estado interrompe uma engrenagem essencial para o diálogo com a sociedade civil e o avanço de direitos básicos.
A demora, portanto, não é apenas um atraso administrativo. É um freio político. E diante da inércia do governo, cabe à sociedade civil manter a pressão. Porque onde há silenciamento, há também resistência.