Na manhã desta segunda-feira, 14 de abril de 2025, o Parlamento da Hungria aprovou por maioria esmagadora uma nova emenda constitucional que representa um ataque direto à comunidade LGBTQIA+ e a cidadãos com dupla nacionalidade. O texto reforça a proibição da Parada do Orgulho LGBTQIA+, atinge pessoas transgênero e abre caminho para a revogação da cidadania de húngaros considerados “traidores da nação”.
A medida escancara a estratégia de endurecimento liderada pelo primeiro-ministro Viktor Orbán, figura central da extrema direita europeia. O líder, que governa desde 2010, continua a usar o poder legislativo como instrumento de repressão e exclusão, escorando-se num discurso nacionalista agressivo que vilaniza minorias e opositores.
Em março deste ano, Orbán prometeu uma “grande limpeza de Páscoa”, mirando seus opositores políticos, a quem classificou como “parasitas”. A nova emenda é vista por analistas como uma concretização dessa ameaça simbólica — um golpe não apenas jurídico, mas ideológico, que associa patriotismo à exclusão e à intolerância.
O novo texto constitucional permitirá que cidadãos com dupla nacionalidade sejam expulsos do país, reforçando o controle sobre a identidade húngara e acirrando tensões étnicas e culturais. Além disso, a nova medida aprofunda a repressão aos direitos civis da população trans e restringe ainda mais os espaços de expressão da comunidade LGBTQIA+.
Diante da aprovação da emenda, protestos tomaram as ruas da capital húngara. A deputada de oposição Timea Szabo, uma das vozes mais ativas contra as reformas autoritárias, declarou durante as manifestações:
“Quando tentamos impedir a primeira reformulação da Constituição em 2011, nunca imaginamos que ainda estaríamos lutando 14 anos depois.”
A fala de Szabo revela a exaustão de uma luta prolongada e o fracasso das instituições em conter a guinada autoritária do governo.
Desde seu retorno ao poder, Orbán tem progressivamente enfraquecido a imprensa livre, limitado o poder judiciário e reduzido o alcance de organizações civis. Com o crescimento da extrema direita global — impulsionado pela vitória de Donald Trump nas primárias norte-americanas —, Orbán encontra mais espaço para radicalizar suas políticas.
Especialistas apontam que o modelo de governo húngaro está se moldando a uma versão europeia do chamado “putinismo”, em referência ao presidente russo Vladimir Putin. Não há execuções, mas o sufocamento da oposição, da diversidade e do pensamento crítico é metódico e contínuo.
Enquanto ONGs e defensores dos direitos humanos denunciam as mudanças como um retrocesso grave, muitos governos europeus permanecem em silêncio ou emitem notas diplomáticas tímidas. A falta de ação concreta revela um problema profundo: a normalização da intolerância institucionalizada dentro da própria União Europeia.
A aprovação dessa emenda não é um evento isolado, mas parte de um projeto político de exclusão e homogeneização. Ao mirar a comunidade LGBTQIA+ e cidadãos com dupla nacionalidade, o governo húngaro envia um recado claro: não há espaço para quem diverge, para quem é diverso ou para quem ousa existir fora do padrão imposto pelo poder.
A luta, como bem disse Timea Szabo, continua — mas agora em terreno cada vez mais minado.