Barcelona Celebra o 8M com Manifestações Paralelas

Barcelona Celebra o 8M com Manifestações Paralelas

No Dia Internacional da Mulher, 8 de março, Barcelona vivenciou um marco importante com a realização de duas manifestações feministas paralelas. Pela primeira vez, a cidade atendeu à convocação de duas marchas separadas, com rotas diferentes e objetivos distintos. A primeira, a mais massiva, foi organizada pela Assembleia 8M, enquanto a segunda, liderada pelo Movimento Feminista, seguiu um caminho alternativo.

A Marcha Principal: Em Defesa dos Direitos das Mulheres

A principal manifestação, convocada pela Assembleia 8M, teve início na Plaça de la Universitat, com a participação de milhares de pessoas, que percorreram a Gran Via, Passeig de Gràcia e Ronda Sant Pere até o Arco do Triunfo. A marcha foi caracterizada por um clima festivo e familiar, com a presença de muitas famílias, já que a mobilização aconteceu no sábado, facilitando a logística para aqueles que não poderiam participar durante a semana.

A Assembleia 8M começou a manifestação com castellers (torres humanas), tambores e sinalizadores roxos, acompanhados de faixas com mensagens de luta. A principal faixa trazia a frase: “O cuidado sustenta a vida. Exigimos direitos e corresponsabilidade para viver com justiça e liberdade”. Durante a marcha, foi realizado um minuto de silêncio em homenagem às mulheres afegãs, vítimas da opressão do regime talibã, com o símbolo do silêncio representado pelas máscaras cobrindo os rostos dos manifestantes.

Joana Amat, porta-voz da Assembleia, aproveitou o momento para denunciar a opressão das mulheres no Afeganistão, afirmando que “a lei do silêncio é a política do Talibã”. A marcha teve um tom de protesto, mas também de celebração das conquistas femininas, com faixas como “Você se cansa de ouvir, nós nos cansamos de viver” e “Nem de rosa, nem de azul, nos vestimos de luta todos os dias”.

A Marcha Alternativa: Oposição à Lei Trans

Enquanto a principal marcha avançava pelo centro de Barcelona, a manifestação convocada pelo Movimento Feminista seguiu uma rota alternativa, saindo da Plaça Catalunya e terminando na Plaça de Sant Jaume. Este grupo se distanciou da convocação oficial e trouxe à tona questões controvertidas, como a oposição à prostituição e à Lei Trans. Com o lema “A prostituição é violência”, os manifestantes se concentraram em questionar a legislação que, segundo eles, não protege suficientemente as mulheres, principalmente em relação aos direitos das trabalhadoras do sexo.

A manifestação alternativa também expressou um discurso contra a inclusão de pessoas trans em competições esportivas femininas. “Chega de homens no esporte feminino”, afirmaram, argumentando que a puberdade masculina oferece vantagens físicas substanciais. Este discurso gerou tensões durante a marcha, especialmente quando um grupo de ativistas dos direitos trans tentou interromper a leitura do manifesto na Plaça de Sant Jaume, sendo escoltado pela polícia.

O Feminismo Frente ao Fascismo e a Reação Política

Nas declarações políticas, a ameaça do avanço da extrema-direita na Europa e sua relação com os direitos das mulheres foram temas centrais. Ares Tubau, secretário-geral adjunto de Feminismos do Governo, destacou a importância de sair às ruas em tempos de crescente fascismo, afirmando que o feminismo é essencial para a defesa dos direitos das mulheres. “Será o feminismo que se levantará, vimos isso na Alemanha, onde as mulheres votaram massivamente na esquerda porque os direitos das mulheres estão ameaçados”, disse.

Outras figuras políticas, como Lluïsa Moret, do PSC, e Jèssica Albiach, líder dos comuns no Parlamento, reforçaram a necessidade de visibilidade para a agenda feminista, especialmente em um contexto onde surgem abordagens reacionárias. Jèssica enfatizou que os direitos conquistados pelas mulheres não podem retroceder, e é necessário investir na vida, não na morte, em tempos de crise.

Suu Moreno, porta-voz nacional da CUP, chamou o feminismo de “projeto transformador” e defendeu a conquista contínua de direitos, enquanto Judit Toronjo, do Junts, lembrou a importância de uma política feminista transversal, que abrange todos os aspectos da sociedade, incluindo economia, educação e saúde.

O 8M em Barcelona foi um reflexo das tensões e desafios do feminismo atual, com suas diferentes correntes e posicionamentos. As manifestações, apesar de divididas, revelaram a pluralidade do movimento feminista e a necessidade de continuar lutando pela defesa dos direitos das mulheres e das pessoas LGBTQIA+, frente aos retrocessos e ameaças que se apresentam em vários âmbitos sociais e políticos.

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