Drag Queen Indígena Pryara Mattel Celebra Cultura Terena na Arte Transformista

Drag Queen Indígena Pryara Mattel Celebra Cultura Terena na Arte Transformista

A arte drag tem se consolidado como um espaço de expressão, identidade e resistência dentro da comunidade LGBTQIA+. No Brasil, um país marcado por sua diversidade cultural, alguns artistas ampliam ainda mais essa representatividade ao incorporarem suas raízes e ancestralidades em suas performances. Esse é o caso de Gabriel Medeiros, um jovem de 19 anos, que leva para os palcos a força da cultura indígena Terena através de sua drag queen Pryara Mattel.

Residente de Campo Grande (MS), Gabriel se destaca no meio transformista ao integrar elementos da sua identidade indígena às suas montações. Pinturas corporais, acessórios tradicionais e referências à cultura Terena estão sempre presentes em sua estética. Seu objetivo? Mostrar ao mundo que ser drag queen e indígena não só é possível, mas também motivo de orgulho.

Apoio familiar desde a infância

Diferente da realidade de muitos jovens LGBTQIA+, Gabriel sempre contou com o apoio incondicional de sua família. Aos 12 anos, ele já havia se assumido e compartilhado seu amor pela arte drag. Sua primeira aparição maquiado foi registrada em um post nas redes sociais, um momento que poderia ter sido de tensão, mas que foi recebido com naturalidade por seus familiares.

“Nunca escondi que era gay, então, quando falei abertamente, foi só uma reafirmação. Ninguém nunca teve preconceito. Na minha família, todos são de mente aberta. Eles não seguem nenhuma religião específica, então acho que isso ajudou”, compartilha Gabriel.

O suporte veio, principalmente, de seus avós. Sua avó, dona Arminda, ensinou-o a costurar, ajudando-o na confecção de roupas e perucas. Já o avô, seu Antenor, contribuiu financeiramente para que ele pudesse adquirir materiais para suas produções artísticas. Esse incentivo familiar foi essencial para que Gabriel pudesse aprimorar suas habilidades no transformismo.

Criatividade e superação na pandemia

O sonho de se tornar drag queen começou a ganhar força durante a pandemia, período em que Gabriel precisou recorrer à criatividade para superar a falta de recursos. Sem condições de comprar perucas e maquiagens próprias, ele desfiava lãs de tapetes da casa da avó para criar os cabelos de Pryara Mattel e utilizava os produtos emprestados de suas irmãs e primas para se maquiar.

Foi também nessa época que ele começou a divulgar seu talento nas redes sociais, gravando vídeos para os challenges que viralizavam no Instagram. A partir desse momento, Pryara Mattel começou a ganhar notoriedade na internet, atraindo seguidores e fortalecendo sua identidade como artista drag.

Orgulho de ser indígena e drag queen

A ligação de Gabriel com suas raízes indígenas sempre esteve presente. Sua família materna é Terena, com origem na aldeia Olho d’Água, em Dois Irmãos do Buriti (MS). Durante a infância e adolescência, ele visitava frequentemente a aldeia e participava de festivais culturais, como as comemorações do Dia da Cultura Indígena.

Essa conexão com a ancestralidade se reflete na estética de Pryara Mattel. Suas montações frequentemente incluem pinturas tribais, símbolos culturais e acessórios inspirados na tradição Terena. Para ele, a arte drag e a identidade indígena caminham juntas, provando que o transformismo pode ser um meio de valorização da cultura indígena.

Apesar de ainda haver poucas drag queens indígenas no Brasil, Gabriel nunca se sentiu deslocado. “Dentro da aldeia, sei que existem muitos LGBTQIA+, inclusive na minha família. Nunca foi um problema. Pelo contrário, vejo como um sinal de evolução. Nossa cultura está em toda parte”, afirma.

O futuro de Pryara Mattel na cena drag

Durante um período, Gabriel deu uma pausa na carreira drag para se dedicar ao trabalho em uma loja. No entanto, sua paixão pelo transformismo nunca desapareceu. Ele retornou com força total durante o Carnaval de 2024 e agora está determinado a se firmar de vez na cena drag, mostrando ao mundo sua arte única e cheia de significado.

“Quero levar minha arte adiante e fazer as pessoas apreciarem o trabalho de um garoto indígena e drag queen”, declara Gabriel.

O nome artístico Pryara Mattel nasceu da junção de duas grandes inspirações: Priyanka, drag queen e cantora que participou do reality show internacional de drag queens, e Mattel, fabricante da icônica boneca Barbie. “É barbiezinha indígena”, brinca.

Com um talento único e uma mensagem poderosa, Pryara Mattel representa não apenas a resistência LGBTQIA+, mas também a força da cultura indígena no Brasil. Seu trabalho reforça que arte e ancestralidade podem coexistir e brilhar juntas nos palcos da diversidade.

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